Dias de folga chegando, resolvi
me programar para aproveitar mais o curto tempo livre que tinha fora da fazenda.
Combinei com o Mikail, amigo afrikaans de Knysna (lê-se “náisna”) que conheci
no ônibus, que iria para lá conhecer sua cidade. Pedi dica de um hostel legal
para ficar, mas ele disse para não me preocupar com isso. Antes de partir para lá,
fui com as meninas visitar nossos pesados vizinhos no Elephants Sanctuary –
santuário de elefantes literalmente ao lado de casa.
Gaelle, Chiara, elefante, treinador, Farina e eu. |
Passeado de "mãos dadas" com a elefanta! hahah |
Os elefantes que lá vivem, são
provenientes do Kruger National Park – uma das maiores e a mais famosa reserva
de vida selvagem do continente africano. São animais rejeitados pelo seu grupo,
que não sobreviveriam sozinhos na selva. No santuário, vivem soltos e são
treinados para conviver com os humanos e agradar aos turistas. Segundo o
treinador, não são obrigados a fazer isso, só o fazem para receber agrados como
recompensa – amendoim, por exemplo. Pudemos
passear de “mãos dadas” com eles pela floresta, dar de comer, assistir a truques
– como chacoalhar a cabeça – e, para quem pagasse uma taxa maior, seria
possível até pegar uma carona em cima deles! Fui uniformizado com a camisa do
Paquidermes F.C., meu time do coração na PUC Minas, para tirar foto com o
verdadeiro mascote da equipe!!
Taxi rank em Knysna |
Saindo de lá, fui direto para
Plett de minibus taxi pegar uma “conexão” para Knysna. Os minibus param em um taxi rank,
tipo um estacionamento onde é possível arrumar condução para vários destinos.
Os taxi ranks são lugares singulares,
ótimos para absorver o cotidiano da população local! Dignos de um post detalhado,
prometo escrever um texto dedicado só aos meios de transporte locais! Enfim, lá
peguei um taxi para meu destino. Esse era tipo um taxi mesmo, não uma van. Para
partir logo, tive que pagar pelos assentos livres. Como essa rota não tem um
fluxo grande de passageiros, iria ficar esperando eternamente que o taxi
enchesse. Eram 20 rands por pessoa
(R$5), a viagem de meia hora saiu pelo preço normal de uma corrida de taxi aqui
no Brasil. O motorista e a outra passageira foram o caminho inteiro falando em
xhosa, não entendia nada daquela língua cheia de cliques! Peguei meu guia
Lonely Planet para consultar o dicionário de frases úteis. Saindo do carro,
disse: “Enkosi”!
Entrada da Knysna Lagoon vista do East Head |
Knysna se parece com as outras
cidades da região: bem cuidada, turística e afrikaans. Mas meu guia lá era um
amigo local, pude conhecer de perto o estilo de vida deles! Chegando lá, Mikail
me levou direto para East Head - um
mirante em cima de um penhasco onde é possível ter uma vista incrível da cidade
e da Lagoa de Knysna se encontrando com o mar, surreal! Em meio àquele visual
todo, encontramos umas amigas dele que iriam estar no pub que iríamos mais
tarde - gostei daquele lugar! Almoçamos e fomos a uma praia fora da cidade,
Buffels Baai (ou Buffalo Bay). Um vilarejo praiano, com lindas casas de
veraneio e ambiente bem familiar. Um refúgio dos locais e surfistas quando a
região é tomada por turistas na alta temporada. Aproveitei para ter umas aulas
de afrikaans com Mikail, tinha que aprender umas frases úteis para usar mais
tarde com as nativas:
Buffels Baai |
- Hallo! (Oi!)
- Hoe gaan dit? (Tudo bom?)
- Dis lekker!
(Beleza!)
- Wat is jou
naam? (Qual seu nome?)
- Jy is mooi!
(Você é bonita!)
- Dankie! (Obrigado!)
A mãe dele estava fazendo jantar
para gente, finalmente ia ter uma refeição digna naquele país! Após o jantar,
ainda assisti ao noticiário local e a uma telenovela – em afrikaans!!!
Conversei muito com a mãe dele (que é professora desse idioma), Amanda,
discutimos sobre as diferenças e semelhanças das realidades de nossos países –
foi bem legal! No final, depois de algumas taças de vinho, ela já estava
falando em afrikaans comigo – fingi que entendia tudo!
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Noitada teen em Knysna |
Partimos então para a noitada.
Como a alta temporada já tinha passado, estava tudo muito vazio – além de estar
chuviscando! Mas era o último final de semana antes da volta às aulas da
garotada, toda a juventude de Knysna decidiu se reunir no mesmo bar – o
Zanzibar. Digo juventude para não falar pirralhada, ou - como eles dizem – youngsters. Como se o elenco todo de High School Musical, ou outro filme do
gênero, estivesse lá! Só consegui manter uma conversa com uma menina que estava
morando na Inglaterra e outra de origem indiana que estudava em Grahamstown, na
mesma universidade que a Jeannine – minha roommate
no Monkeyland. Segunda vez que a regra das 3 pessoas no mundo (eu, você e algum
amigo em comum) se confirma: descobri depois que elas moravam na mesma
residência estudantil! Tentei usar as frases que tinha aprendido na praia, elas
acharam engraçado, mas não deu muito certo. Cidade pequena, todos se conheciam,
geral reunida no mesmo lugar, todo mundo no “0x0”!
Fim de festa na piscina |
No fim da festa, as coisas
pareciam ter melhorado! Fomos levar outras duas meninas em casa, ambas
estudavam em Stellenbosch – mesma universidade que o Mikail. A casa – ou
melhor, mansão - era em um condomínio na Theasen Island, bairro residencial em
uma ilha da Knysna Lagoon. Estava calor e elas nos convidaram para tomar banho
de piscina. Eram duas da manhã e os pais da dona da casa estavam dormindo – opa!
A vista era maravilhosa, parecia que a piscina e a lagoa eram uma coisa só,
além do penhasco (East Head) cheio de
mansões bem na nossa frente! Mal entramos na piscina e começamos a conversar, a
mãe da menina saiu na varanda e expulsou a gente de lá! Saímos todos molhados, catando
nossas coisas e demos o fora - parecia cena de filme adolescente!!
Simplesmente não acreditava que
poderia ter entrado dessa maneira dentro da vida social deles. Por mais que não
me sentisse pertencente àquilo, pude viver um pouco dessa realidade e aprender com a experiência. Somente se
colocando no lugar do outro, deixando de lado nossas verdades, podemos entender
e respeitar outras culturas e diferentes pontos de vista. Aquela tinha sido a
primeira vez, mas não a última, que isso ocorreu na viagem – me senti um
forasteiro, não um simples turista. Essas imersões dentro de outras culturas
merecem um texto só para elas. Mas antes de começar a filosofar, ainda tem
muita história para contar...
1 comentários:
Está uma delícia ler seu blog, saber um pouquinho do que viu e conheceu, seu jeito de descrever nos faz viajar com vc e querer continuar a viagem.
Parabéns pela viagem e pelo blog.
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