domingo, 22 de abril de 2012

Forasteiro no litoral


Dias de folga chegando, resolvi me programar para aproveitar mais o curto tempo livre que tinha fora da fazenda. Combinei com o Mikail, amigo afrikaans de Knysna (lê-se “náisna”) que conheci no ônibus, que iria para lá conhecer sua cidade. Pedi dica de um hostel legal para ficar, mas ele disse para não me preocupar com isso. Antes de partir para lá, fui com as meninas visitar nossos pesados vizinhos no Elephants Sanctuary – santuário de elefantes literalmente ao lado de casa.

Gaelle, Chiara, elefante, treinador, Farina e eu.
Passeado de "mãos dadas" com a elefanta! hahah
Os elefantes que lá vivem, são provenientes do Kruger National Park – uma das maiores e a mais famosa reserva de vida selvagem do continente africano. São animais rejeitados pelo seu grupo, que não sobreviveriam sozinhos na selva. No santuário, vivem soltos e são treinados para conviver com os humanos e agradar aos turistas. Segundo o treinador, não são obrigados a fazer isso, só o fazem para receber agrados como recompensa – amendoim, por exemplo.  Pudemos passear de “mãos dadas” com eles pela floresta, dar de comer, assistir a truques – como chacoalhar a cabeça – e, para quem pagasse uma taxa maior, seria possível até pegar uma carona em cima deles! Fui uniformizado com a camisa do Paquidermes F.C., meu time do coração na PUC Minas, para tirar foto com o verdadeiro mascote da equipe!!

Taxi rank em Knysna
Saindo de lá, fui direto para Plett de minibus taxi pegar uma “conexão” para Knysna. Os minibus param em um taxi rank, tipo um estacionamento onde é possível arrumar condução para vários destinos. Os taxi ranks são lugares singulares, ótimos para absorver o cotidiano da população local! Dignos de um post detalhado, prometo escrever um texto dedicado só aos meios de transporte locais! Enfim, lá peguei um taxi para meu destino. Esse era tipo um taxi mesmo, não uma van. Para partir logo, tive que pagar pelos assentos livres. Como essa rota não tem um fluxo grande de passageiros, iria ficar esperando eternamente que o taxi enchesse.  Eram 20 rands por pessoa (R$5), a viagem de meia hora saiu pelo preço normal de uma corrida de taxi aqui no Brasil. O motorista e a outra passageira foram o caminho inteiro falando em xhosa, não entendia nada daquela língua cheia de cliques! Peguei meu guia Lonely Planet para consultar o dicionário de frases úteis. Saindo do carro, disse: “Enkosi”!

Entrada da Knysna Lagoon vista do East Head
Knysna se parece com as outras cidades da região: bem cuidada, turística e afrikaans. Mas meu guia lá era um amigo local, pude conhecer de perto o estilo de vida deles! Chegando lá, Mikail me levou direto para East Head - um mirante em cima de um penhasco onde é possível ter uma vista incrível da cidade e da Lagoa de Knysna se encontrando com o mar, surreal! Em meio àquele visual todo, encontramos umas amigas dele que iriam estar no pub que iríamos mais tarde - gostei daquele lugar! Almoçamos e fomos a uma praia fora da cidade, Buffels Baai (ou Buffalo Bay). Um vilarejo praiano, com lindas casas de veraneio e ambiente bem familiar. Um refúgio dos locais e surfistas quando a região é tomada por turistas na alta temporada. Aproveitei para ter umas aulas de afrikaans com Mikail, tinha que aprender umas frases úteis para usar mais tarde com as nativas:
Buffels Baai

- Hallo! (Oi!)
- Hoe gaan dit? (Tudo bom?)
- Dis lekker! (Beleza!)   
- Wat is jou naam? (Qual seu nome?)
- Jy is mooi! (Você é bonita!)
- Dankie! (Obrigado!)

A mãe dele estava fazendo jantar para gente, finalmente ia ter uma refeição digna naquele país! Após o jantar, ainda assisti ao noticiário local e a uma telenovela – em afrikaans!!! Conversei muito com a mãe dele (que é professora desse idioma), Amanda, discutimos sobre as diferenças e semelhanças das realidades de nossos países – foi bem legal! No final, depois de algumas taças de vinho, ela já estava falando em afrikaans comigo – fingi que entendia tudo!

Noitada teen em Knysna
Partimos então para a noitada. Como a alta temporada já tinha passado, estava tudo muito vazio – além de estar chuviscando! Mas era o último final de semana antes da volta às aulas da garotada, toda a juventude de Knysna decidiu se reunir no mesmo bar – o Zanzibar. Digo juventude para não falar pirralhada, ou - como eles dizem – youngsters. Como se o elenco todo de High School Musical, ou outro filme do gênero, estivesse lá! Só consegui manter uma conversa com uma menina que estava morando na Inglaterra e outra de origem indiana que estudava em Grahamstown, na mesma universidade que a Jeannine – minha roommate no Monkeyland. Segunda vez que a regra das 3 pessoas no mundo (eu, você e algum amigo em comum) se confirma: descobri depois que elas moravam na mesma residência estudantil! Tentei usar as frases que tinha aprendido na praia, elas acharam engraçado, mas não deu muito certo. Cidade pequena, todos se conheciam, geral reunida no mesmo lugar, todo mundo no “0x0”!

Fim de festa na piscina
No fim da festa, as coisas pareciam ter melhorado! Fomos levar outras duas meninas em casa, ambas estudavam em Stellenbosch – mesma universidade que o Mikail. A casa – ou melhor, mansão - era em um condomínio na Theasen Island, bairro residencial em uma ilha da Knysna Lagoon. Estava calor e elas nos convidaram para tomar banho de piscina. Eram duas da manhã e os pais da dona da casa estavam dormindo – opa! A vista era maravilhosa, parecia que a piscina e a lagoa eram uma coisa só, além do penhasco (East Head) cheio de mansões bem na nossa frente! Mal entramos na piscina e começamos a conversar, a mãe da menina saiu na varanda e expulsou a gente de lá! Saímos todos molhados, catando nossas coisas e demos o fora - parecia cena de filme adolescente!!

Simplesmente não acreditava que poderia ter entrado dessa maneira dentro da vida social deles. Por mais que não me sentisse pertencente àquilo, pude viver um pouco dessa realidade  e aprender com a experiência. Somente se colocando no lugar do outro, deixando de lado nossas verdades, podemos entender e respeitar outras culturas e diferentes pontos de vista. Aquela tinha sido a primeira vez, mas não a última, que isso ocorreu na viagem – me senti um forasteiro, não um simples turista. Essas imersões dentro de outras culturas merecem um texto só para elas. Mas antes de começar a filosofar, ainda tem muita história para contar...

1 comentários:

Neiva disse...

Está uma delícia ler seu blog, saber um pouquinho do que viu e conheceu, seu jeito de descrever nos faz viajar com vc e querer continuar a viagem.
Parabéns pela viagem e pelo blog.

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