domingo, 15 de abril de 2012

"Fugere Urbem"


Como foi bom viver no campo tendo macacos, pássaros e elefantes como vizinhos! Sentar no balanço na árvore em frente de casa no final da tarde, sentir o vento no rosto enquanto observava as cores do céu, o verde das plantas, o barulho dos animais e a simplicidade da vida. Paz, tranquilidade, harmonia com a natureza! Era o que eu estava buscando ao ir para o continente africano, fugir da civilização como os poetas árcades e os personagens dos livros que tinha lido (ver dicas de leitura viajante no fim do primeiro post)!

Vizinhança
Bom dia, Tsitsikamma!

Os dias passavam devagar, suficiente para fazer coisas que não temos tempo na agitada rotina das cidades grandes. Acordar cedo, tomar o café da manhã com calma, dar “Buongiorno” para a Chiara, ir caminhando lentamente para o trabalho contemplando aquele clima bucólico do interior sulafricano, falando “morning!” para todos pelo caminho. No fim do dia às vezes pegávamos carona na carroceria da bakkie. Quando ela ia em direção à fazenda, corríamos atrás da velha caminhonete sem porta para chegar mais cedo em casa!

Pressa para quê?! Com certeza não era para assistir TV, checar emails ou entrar no Facebook. Essas modernidades não estavam disponíveis, também não faziam falta! Ao invés disso, o tempo era aproveitado para lavar roupa, fazer o jantar e preparar o almoço que levaria para o trabalho no dia seguinte. Depois dos afazeres domésticos, ai sim podíamos relaxar!

Voltando de carona
Cooking time!
Bater papo, jogar baralho, assistir filmes no notebook, ler livros, eram os meios rotineiros de distração. O cansaço batia cedo, às dez da noite era difícil ter alguém ainda acordado! Mas sair da rotina às vezes também é bom! Como estávamos meio isolados na fazenda, a 20km de Plett, na maioria das vezes nos divertíamos por lá mesmo. Seguindo à tradição sulafricana, sempre rolava um braai (churrasco) em volta da fogueira.

Fogo!
Caipirinha!

Braai
Festa!

Dia de braai era sempre um acontecimento muito esperado. Cada um tinha uma função e assim que chegávamos do trabalho os preparativos começavam. Buscar lenha, fazer a fogueira, preparar caipirinha e brigadeiro; descobri talentos que nem imaginava que tinha! Cada um colocava na grelha o que iria comer. Tinha de tudo, de bife à beringela. Jeannine e Emelia eram as DJs, a seleção de músicas incluía até reggae sulafricano com algumas músicas em xhosa - da banda Tidal Waves (para ver clipe, clique aqui), muito boa por sinal! Mas uma música que sempre me fará lembrar desses momentos é “5 years time” de Noah and the Whale, principalmente o trecho a seguir:



'Cause I'll be laughing at all your silly little jokes
And we'll be laughing about how we used to smoke
All those stupid little ciggarettes and drink stupid wine
'Cause it was what we needed to have a good time

And it was fun, fun, fun
When we were drinking
It was fun, fun, fun
When we were drunk
And it was fun, fun, fun
When we were laughing
It was fun, fun, fun
Oh, it was fun

Oh well, I look at you and say: "it's the happiest I have ever been!"
And I'll say: "I no longer feel I have to be James Dean."
And she'll say: "yeah, well, I feel pretty happy too,
and I'm always pretty happy when I'm just kicking back with you."

Praia!
A nossa sorte é que tínhamos duas voluntárias sulafricanas com carro, Kim e Jeannine. Então podíamos dividir o dinheiro da gasolina e ir à praia ou jantar em Plett de vez em quando. Como já não estava mais na alta temporada (que é nas férias de natal e ano novo dos sulafricanos), a vida noturna lá estava bem fraca. Mas mesmo assim íamos jogar uma sinuca e tomar uma cerveja antes de voltar para casa! Em dias muito quentes saíamos correndo do trabalho rumo à praia! As mais próximas eram Keurbooms e Nature’s Valley. Depois que a Jeannine foi embora, as vagas no carro da Kim ficaram muito disputadas!


Baixa temporada
Sinuca!

Diversão dos locais...
O único modo de ir da fazenda para Plett, sem carona, era ligar para o motorista do minibus taxi ir nos buscar lá. Demorava pelo menos uma hora até ele chegar, antes tinha que encher a van na comunidade ao lado para seguir viagem. Todos na van já nos conheciam, os voluntários do Monkeyland eram respeitados na Kurland Village. A maioria dos funcionários do santuário moram lá, sendo uma das maiores fontes de emprego local. Sempre fomos bem recebidos e nos faziam sentir em casa dentro da sua realidade. A comunidade era bem organizada, não um amontoado de barracos como algumas aqui no Brasil. Ruas de terra delimitadas, algumas casas boas e outras nem tanto, crianças brincando nas ruas, como qualquer bairro mais carente.


... e a nossa também!
O bar mais perto da fazenda fica ali, o Toks. Os bares das townships (as favelas deles) são chamados de shebeens e, geralmente, são a única forma de diversão dos moradores dessas comunidades. Éramos celebridades no local, ou aberrações – sei lá! Quando chegávamos, todos olhavam para nós. Mas não de uma maneira intimidadora, e sim com curiosidade. Muitos vinham conversar conosco, saber de onde éramos, se estávamos gostando do país deles, contavam casos, como era a dura vida durante o apartheid, etc. A maioria estava bebendo desde cedo, então estavam bem sociáveis! A competição na mesa de sinuca era bem acirrada, nem me atreveria a tentar uma disputa com os profissionais! A música da jukebox sempre alta e bem animada. Nossos colegas de trabalho vinham dançar com a gente, muito divertido e engraçado! A bebida era bem barata, a cerveja de 1L lá era o mesmo preço da long neck na cidade (12 rands, em torno de R$3). Sempre passávamos na shebeen para comprar suprimentos para nossos braais. Descia do carro descalço, cumprimentando todo mundo, me sentia em casa!

Como meus dias de folga não eram junto com nenhuma das motoristas, tinha que me programar para aproveitar o tempo livre que eu tinha para conhecer o lugar direito. Geralmente os days off se resumem a ir cedo para Plett, pegar uma praia na cidade mesmo (era bem bonita), entrar na internet em algum cyber cafe ou restaurante com wi-fi, comprar mantimentos para a semana toda no supermercado (Checkers e Spar são mais perto de onde a van sai; Pick’n Pay é maior, embora mais longe) e correr para não perder o último minibus taxi para a Kurland Village – que sai às 16h em dias de semana e às 14h nos finais de semana!! Como meus dias livres eram às sextas e sábados, teria sempre que voltar cedo para casa e não ia conseguir aproveitar muito.

Dia de praia em Plett
No primeiro final de semana foi isso que ocorreu, tinha acabado de chegar e ainda não sabia direito como as coisas funcionavam. Até tentei alugar um carro com a Chiara. Não sairia muito caro (pouco mais de 200 rands a diária, menos de R$60), mas tinha que ter feito reserva antes. As próximas oportunidades para explorar a região não poderiam ser despediçadas! O mês que passaria ali estava passando e havia ainda muito o que conhecer no pouco tempo livre que eu tinha. A semana seguinte teria que ser mais proveitosa...


PRÓXIMO POST >>


<<POST ANTERIOR

0 comentários:

Postar um comentário