terça-feira, 22 de maio de 2012

Road trip na Garden Route

Road trip

Os dias passavam devagar, ao contrário da proximidade da minha partida que se aproximava a passos de elefante desgovernado. Minha vontade de me aventurar pelas paisagens sulafricanas só aumentava. Seriam meus últimos dias de folga antes de cair de vez na estrada, rumo ao desconhecido! Já tinha conhecido bastante coisa ali da região, mas ainda havia muito a explorar. Eu e Chiara íamos pegar os mesmos days-off para alugar um carro e ir mais longe, fora do raio de alcance da nossa base – o Monkeyland. Logo, mais gente se animou e decidiu se juntar a nós. Kim e Farina pediram os mesmos dias livres e nós quatro decidimos ir a Wilderness (parque nacional a 100km de distância) no carro da Kim e dormir por lá. Não sei como deixaram quatro voluntários tirarem folga ao mesmo tempo. Coitada da Emelia, a inglesa, que se sentiu excluída e ficou sozinha em casa.

Check list da Garden Route
Depois de algum tempo isolado ali na fazenda, estava eufórico em por o pé na estrada novamente – mesmo que por apenas dois dias. Meu mochilão parecia deprimido ali no canto do armário, vazio por dentro. Depois de enchê-lo com toda a parafernália, voltamos a ser como Dean Moriarty e Sal Paradise – uma dupla sempre pronta to be back “On the Road”! Marylou também iria se aventurar conosco, faltava saber quem seria sua representante.

Vista de Knysna Lagoon
Partimos lá pelas 9h da manhã, tínhamos nos programado antes para aproveitar bem o tempo livre. A primeira parada foi em Knysna (lê-se "Náisna"). Tinha estado lá na semana anterior, fui o guia da vez. Levei-as direto ao mirante do East Head. É aquele tipo de lugar em que se chega sem muita expectativa, quando de repente: Wooowww!!! A melhor primeira impressão que se pode ter da cidade. Aquele cenário com penhascos enormes, como um portal entre a lagoa e o mar de águas quase fluorescentes, nos deixa hipnotizados. Fomos seguindo umas trilhas até as praias semi desertas que viamos lá em baixo. Não bastava contemplar o lugar. Tínhamos que sentí-lo, tocá-lo, experimentá-lo.

Praias escondidas entre os rochedos em The Heads, Knysna.
Pizza exótica, Caffe Mario.
Fomos almoçar no Waterfront, miniatura do famoso complexo em Cape Town. Liguei para o Mikail, meu amigo de lá, para pedir dica de um restaurante legal e convidá-lo para almoçar conosco. Para a sorte da Chiara, o escolhido foi um italiano – Caffe Mario. Ela poderia matar a saudade gastronômica da sua terra. Em meio a pizzas, saladas e espaguetes, a sensação foi a pizza à moda da casa que o Mikail pediu e recomendou. Os ingredientes eram abacate, banana, bacon, queijo e molho de tomate. A combinação não parecia tão convidativa para aceitarmos a sugestão. Mas depois experimentei uma fatia, até que não era tão estranho o sabor. Mandei embrulhar o que sobrou para viagem, muito bom!

Waterfront, Knysna.

Treino de water polo no meio do shopping
O ambiente era agradável, depois da sobremesa ficamos conversando e observando a paisagem. Estava tendo treinamento de polo aquático das crianças da antiga escola do Mikail, bem ali no meio do shopping center. Olhei as bandeirinhas de vários países  que faziam parte da decoração - ainda deviam ser resquícios da Copa do Mundo, pensei. Mas serviam muito bem para representar aquele momento multicultural. Brasil, Itália, Alemanha e África do Sul à mesa, comendo comida italiana; assistindo a uma partida de um jogo inglês com jogadores afrikaans, descentes de holandeses; em volta a belas paisagens do litoral africano, colonizado pela Holanda e Inglaterra àlguns séculos atrás.
Craft market em Knysna

Nos despedimos do Mikail e partimos. Antes de seguir para Wilderness, paramos em uma feira de artesanto na beira da estrada – um craft market, toda cidade tem algum. Dei uma volta rápida pelas barraquinhas, fugia dos vendedores grudentos. Não queria comprar nada, economizando dinheiro e espaço na mochila. Fiquei esperando as meninas na sombra de uma árvore, observando o cotidiano daquelas pessoas – esculpindo suas obras, fonte do seu sustento.


Wilderness vista da estrada
Pegar a estrada depois do almoço dá um sono! Pobre da Kim que foi dirigindo sem ninguém para conversar. Logo estávamos em meio às lagoas e florestas do Wilderness National Park, muito verde ao redor! No mapa, o nosso albergue (Wild Farm) não parecia longe do centro da cidade. Só que ele era no topo de uma montanha, a estradinha de terra adentrava a vegetação rumo ao cume. Quando a poeira que o carro levantava dava uma trégua, as paisagens já iam nos dando uma prévia da vista lá de cima. Fomos recompensados por uma vista de 360° da região; Oceano Índico, lagos, montanhas, animais, fazenda, natureza! Fizemos o check in, deixamos nossas coisas no quarto e partimos para uma praia ali perto, Victoria Bay.

Panorama do Wild Farm Backpackers
Vic Bay
Vic Bay, para os íntimos, é um famoso point de surf. Todas as atenções estão voltadas para as ondas, um clima bem North Shore – a famosa costa norte da ilha havaiana de Oahu, meca dos surfistas. Depois de ir descendo as montanhas pela estrada que serpenteia seu vale, chega-se a uma praia minúscula. O cenário é completado por um calçadão nas encostas das montanhas com algumas casas de veraneiro, um pier e um albergue com pub – uma vibe muito tranquila. Era final da tarde, o sol já estava atrás das monhanhas e o vento estava frio. Apreciamos a paisagem, demos um pulo no mar e fomos embora. Compramos alguns mantimentos na cidade e voltamos correndo para o Wild Farm, não podíamos perder o por do sol lá de cima.



Chuveiro com  direito a vista
Chegamos bem na hora, o crepúsculo estava perfeito para fotos irradiantes! Até do chuveiro dava para contemplar aquele visual. Nunca tinha tomado um banho vendo um por do sol daquele, talvez uma ducha em alguma praia do Hawaii. O sol se foi e o frio chegou. Vinho caiu bem para acompanhar o macarrão com molho de pózinho. Para descontrair começamos a jogar cartas, ensinei o Kings Cup para as meninas. Foi muito engraçado! Chiara não aguentou e passou a beber chá – virou a “Tea Loser”!




Vinho sul-africano
King's Cup
Chiara, "tea loser"!

Conhecemos uma alemã, Cláudia, que falava espanhol também. Ela é mais velha, disse que sempre passa longas temporadas viajando. Já morou na Argentina e esteve em Porto Alegre. Com a Farina ela falava em alemão, comigo e a Chiara em espanhol e inglês com todos. Ela foi dormir e depois voltou correndo falando que tinha uma aranha no quarto dela e não iria conseguir dormir sabendo que ela estava ali. Fui lá matar a aranha!

Quando as meninas decidiram ir para o quarto, não achamos a chave. A última vez que a vimos foi na cozinha, no jantar. Será que alguém tinha pego por engano? Tentamos lembrar de todos que passaram pela cozinha enquanto estávamos ali. Fomos acordar um por um para perguntar. No fim descobrimos que estava no quarto da alemã, tinha deixado lá quando fui matar a aranha. Fiz uma fogueira lá fora. O vinho, as estrelas, o fogo, o clima esquentou.

Café-da-manhã panorâmico
Tomamos um café da manhã reforçado na varanda panorâmica do bar, com direito a frutas orgânicas produzidas na fazenda. E o melhor, estava incluído na diária! Tínhamos um dia repleto de contato com a natureza pela frente. Fizemos o check out e peguei na recepção dois guias de mochileiros, Coast to Coast e Alternative Route, que foram muito úteis. Listavam todos os albergues das cidades no meu roteiro. Era só pesquisar lá, pedir dicas de outros viajantes, ou do staff dos hostels, e decidir para onde ir.

Alugamos nossas canoas na EdenAdventures, dentro do Wilderness National Park. Fomos remando rio acima em meio a um vale com floresta nativa, respirando a natureza com todos nossos sentidos! O curso d’água ia se estreitando e ficando cada vez mais raso, “estacionamos” nossa canoa nas pedras e pegamos a trilha para a cachoeira. A “trilha” era na verdade uma passarela de madeira suspensa entre as árvores, uma caminhada tranquila de meia hora na floresta. O filete d’água entre as pedras era insignificante, até que foram surgindo umas piscinas de coca-cola cada vez maiores e barulhentas. Chegamos às cachoeiras, imensos blocos de pedra represando águas escorregadias que pulavam de lá para cá. Piquenique na sombra, sonecas ensolaradas, mergulhos arrepiantes, paz na mente.







Parecia que estávamos fora por uma semana e foram só dois dias. Voltamos para a rotina de voluntários no Monkeyland, os macaquinhos estavam com saudades. Minha última semana de trabalho ia ser intensa: duas voluntárias novas, visita das crianças guiada por mim, aventuras, planejamento, caledário, decisões, despedidas...

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