Segundo a definição do meu guia
mochileiro, Alternative Route, Grahamstown é conhecida como “Cidade dos Santos”.
Mais por suas muitas igrejas que pelo comportamento de seus muitos estudantes.
É lá que fica a Rhodes University, uma das principais do país. Não é uma cidade
muito turística, mas muito festeira. Pedi para o motorista da van me deixar no
campus, desci em frente ao teatro. Era lá que iria esperar a Jeannine, minha
roomate no Monkeyland, que morava em uma das várias residências estudantis por
ali.
Rhodes University |
Incrível como as cidades
universitárias são aparentemente tranquilas e pacatas. Assim como em
Stellenbosch, o campus era muito parecido com os que vimos em filmes americanos
– ruas arborizadas, imponentes prédios históricos e vários dormitórios e
repúblicas estudantis. Fomos deixar minhas coisas no dormitório dela e partimos
para um pub, tudo a pé. A residência estudantil dela era só feminina. Para entrar,
tinha que passar um cartão magnético e minha presença foi registrada em um
livro de visitantes masculinos com horário de entrada e saída. Era dia de
mudança, as alunas tinham acabado de voltar das férias e seus pertences estavam
encaixotados no depósito. Como único homem no prédio, fui requisitado a
carregar algumas caixas escada acima. Virei a atração do lugar! Era um grupo
bem mais heterogêneo que em Stellenbosch, onde a maioria é Afrikaans. Lá
encontrei a menina indiana que conheci em Knysna, mundo pequeno!
Shots! |
A noite chegou e a tranquildade
das ruas foi embora, então entendi a descrição do guia. Fizemos uma
perigrinação. Não religiosa, claro, mas sim etílica. Não lembro ao certo
quantos bares e baladas entramos. Colecinávamos carimbos e pulseiras de livre
acesso aos lugares. Tudo começou em um bar com driques a 5 rands (menos de 2
reais), encontramos umas amigas dela e ficamos conversando. Cada hora era uma
bebida diferente. Querendo provar algo típico, experimentei quase todo o
cardápio. Mas as bebidas típicas de cidades universitárias são as mesmas em
qualquer lugar, cerveja e destilados com coca cola. O que pode mudar é a marca,
que seja então!
Jeannine, eu, Kiara e Trisha |
Duas de suas amigas (Trisha e
Kiara) eram do Zimbábue, país vizinho controlado pela conturbada ditadura de
Robert Mugabe. Enquanto o ditador anda expulsando os fazendeiros brancos do seu
país, as duas trocam confidências em uma mesa de bar – onde a cor da pele não
faz a menor diferença. Falei que queria conhecer Harare, a capital de seu país,
entender como é viver naquele controverso sistema político. Tinha ouvido
rumores de que haveria eleições presidencias em breve, provavelmente mais uma
vez violentas e fraudulentas. Elas não me incentivaram tanto a ir, mas me
passaram alguns contatos para procurar lá caso realmente decidisse tentar. A
economia do Zimbábue entrou em colapso com a queda da produção agrícola, após a
“reforma agrária” ditatorial. O dólar zimbabueano não valia mais nada. Para
conter a inflação estratosférica, a solução foi dolarizar a economia. Kiara
tirou da carteira suas notas de dólares, todas em fiapos. As cédulas que iam
ser descartadas nos EUA são as que circulam por lá, cheias de rabiscos e
remendadas com fitas adesivas. Harare já tinha visto dias melhores. Ver vídeo (em inglês) sobre a situação no Zimbábue no final desse post.
Foam party! |
Domingo de sol, belo passeio pela
cidade e gramados da universidade. Ainda tinha festa programada, mesmo com
ressaca acumulada. A festa da espuma em um divertido pub, o House of Pirates, prometia. Não lembrava
que já tinha conhecido a metade das pessoas dali na noite anterior, dizia “Hi,
nice to meet you” para todo mundo. Foi muito divertido, mesmo não aderindo à
farra na piscina de espuma. Viajar todo molhado ia ser complicado, preferi só
assistir.
Campus universitário |
Demos umas voltas de carro para
procurar o taxi rank e pedir informações sobre os horários das vans, sem
sucesso. O destino era a Wild Coast, o litoral quase intocado repleto de
vilarejos tribais na região mais pobre do país. Mas não sabia se ia direto para
Coffe Bay ou pararia alguns dias em Cintsa, como indicado por amigos de
estrada. Conferi os horários dos ônibus e decidi partir para East London,
dormir lá e seguir para Cintsa no dia seguinte. Lá era a cidade natal da
Jeannine, a Wild Coast seu quintal. Ela tinha ficado tão contente quando eu
disse, ainda no Monkeyland, que queria conhecer aquele lugar. Lamentava-se
pelos voluntários estrangeiros que só iam a Cape Town e nada mais. Como se
algum gringo me dissesse que queria conhecer a Chapada dos Guimarães, refúgio
de cuiabanos como eu, além do Rio de Janeiro. Seria a companhia perfeita para
aquela aventura, me passou várias dicas. Malditas aulas da faculdade, que
abreviaram nossa despedida. Paramos na Steers para lanchar enquanto o ônibus
não aparecia. Vários passaram e nada do meu, mas ele chegou. Hora de partir
novamente, rumo ao desconhecido.
![]() |
Caminho pela frente... |
Vídeo (em inglês) sobre a situação no Zimbábue: