Nunca pensei em criar um blog, como nunca tinha pensado em fazer uma tatuagem, pular de paraquedas ou de bungee-jump. Mas decidi me aventurar nesse universo para dividir minhas experiências e poder recordar de momentos incríveis pelos quais passei nessas andanças por aí. Não prentendo seguir a linha “meu querido diário...”, narrando cada mínimo detalhe, até porque não dá pra lembrar de tudo. A partir de situações inusitadas, ou mesmo corriqueiras, quero dividir minhas impressões, ideias, pensamentos e ligeiras análises (sem pretensões pseudo-intelectuais) sobre a maravilhosa arte de se jogar no mundo e conhecer lugares, pessoas e culturas totalmente diferentes (ou nem tanto) dos que estamos acostumados.
Citando Amyr Klink, em Mar Sem Fim:
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.
Ser capaz de se aventurar no novo, aprender com outras realidades, saber lidar com o inesperado, sobreviver fora da sua zona de conforto, exige um pouco de espírito aventureiro. Isso é algo construído aos poucos, não é tão fácil assim colocar a mochila nas costas e partir rumo ao icógnito. Como já mudei de cidade algumas vezes, fiz alguns intercâmbios e li alguns livros que me encorajaram, como Into the Wild (claro!) e os de Jack Kerouac, Paul Theroux, Amyr Klink e outros autores viajantes; decidi então fazer meu tão sonhado mochilão sozinho! O destino?! América do Sul ou Europa?? Já foram os primeiros da minha lista, mas não era o que eu estava buscando no momento, queria desbravar o desconhecido (ao menos para mim). Lá o efeito surpresa tornaria a viagem mais interessante, não me sentiria dentro das fotos que já estou acostumado a ver no facebook dos meus amigos.
Tinha saído do emprego, juntado uma graninha, e pretendia viajar durante as férias da faculdade, janeiro e fevereiro (no Rio o ano só começa depois do carnaval mesmo!). Pesquisei passagens para vários lugares: Tailândia, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, etc. Um ponto importante seria arrumar alguma coisa útil para fazer antes de por o pé na estrada com a mochila, ter uma rotina para conhecer o estilo de vida local mais a fundo, não somente ficar pulando de albergue em albergue festando com outros mochileiros. Fazer curso de inglês, ou outro idioma, seria uma boa ideia para conhecer uma galera, curtir e conhecer bastante uma cidade. Mas a grana estava curta e eu queria interagir mais com pessoas locais e não só com brasileiros, que são a maioria dos intercambistas na alta temporada.
Quando eu trabalhei em uma agência de intercâmbio, a WorldStudy aqui do Rio, tinha pesquisado sobre programas de voluntariado na África do Sul que me deixaram bastante interessado. Lembrei que tinha um que oferecia acomodação de graça, perfeito! Mandei um email para lá perguntando se eles poderiam me receber durante o período que eu queria ir e, quando obtive a resposta positiva, comprei a passagem! O que eu faria lá?! Só sabia que iria trabalhar e morar em um santuário de primatas, Monkeyland, perto de uma cidadezinha litorânea chamada Plettenberg Bay, a pouco mais de 500km da Cidade do Cabo. Como disseram meus amigos, eu ia “PENTEAR MACACO” NA ÁFRICA!!!
Não tinha caído a ficha que eu estava indo sem conhecer nada nem ninguém. Conforme a data do embarque foi chegando, a ansiedade foi aparecendo. Muitos amigos me encorajavam, diziam que eu ia aproveitar muito esta experiência. Outros ficavam preocupados, diziam: “O que você vai fazer lá?!”, "Toma cuidado!" ou “Boa sorte!”, como se eu estivesse indo para a guerra. Evitei criar expectativas, embora isso seja muito difícil. Mas não saber o que está por vir pode ser bom, temos a chance de apreciar tudo conforme as coisas vão acontecendo, sem frustrações quando não ocorrem como o esperado. Estava partindo para o meu primeiro mochilão, sabendo que muitos perrengues estariam por vir. Como definiu Fábio Zanini, jornalista da Folha de São Paulo, em seu livro Pé na África:
“Mochilar não é apenas o ato de enfiar a mochila nas costas. É um conceito, o de sentir um orgulho mosoquista de passar perrengue. De viajar apertado no pau de arara e comer sanduíches suspeitos em feiras livres, sem se preocupar com o dedão sujo da figura que te serviu. (...) Tudo em nome do contato com a vida local”.
Preparados??
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DICAS DE LEITURA VIAJANTE:
KEROUAC, Jack. On the Road: Pé na Estrada. Porto Alegre: L&PM, 2011.
KEROUAC, Jack. Os Vagabundos Iluminados (Dharma Bums). Porto Alegre: L&PM, 2010.
KLINK, Amyr. Mar Sem Fim. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
KRAKAUER, Jon. Na Natureza Selvagem (Into the Wild). São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
THEROUX, Paul. O Safári da Estrela Negra. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
ZANINI, Fábio. Pé na África. São Paulo: Publifolha, 2009.
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