domingo, 21 de outubro de 2012

Into the Wild Coast...

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Orla de East London
Já era tarde da noite quando o ônibus parou em frente ao Windmill Mall, em East London. O albergue, Sugar Shack, não era longe dali. Bastava seguir em direção à praia e virar à esquerda. Mas segundo o Lonely Planet e conselhos de amigos locais, essa caminhada não era uma boa ideia. East London é a segunda maior cidade da província de Eastern Cape, atrás de Port Elizabeth. A pobreza nessa região não fica segregada em guetos, é mais aparente. Como combinado antes por telefone, liguei para o Sugar Shack e o rapaz foi me buscar de carro na     parada de ônibus. O hostel estava praticamente vazio, mas havia um pessoal jogando sinuca. Juntei-me a eles para uma cerveja e jogar conversa fora. Os alemães se divertiam com as histórias dos senhores locais, já embriagados. O barulho das ondas, que quebravam logo ali em frente, me conduziram para o quarto. Meu sono teria uma cabana inteira com trilha sonora marítima só para ele.



Vista panorâmica do Sugar Shack Backpackers
Vista do banheiro!


Acordar com uma vista daquela foi revigorante. Até do banheiro dava para contemplar aquele visual. Um perfeito e aconchegante recanto praiano. A praia era bonita, porém deserta demais. Uma área em que se deve evitar andar sozinho, segundo o Lonely Planet. Sentado no deck da minha cabana, observando a paisagem, vi uma cena que me fez lembrar que estava na África e não no Hawaii. No calçadão da praia, um homem em fiapos apoiava-se em uma lixeira. Hipnotizado, parecia buscar uma luz no fundo da lata de lixo para salvar-se daquela condição. Ele precisaria mais do que restos de comida para nutrir sua fome interior.





Minha cabana de mochileiro
Triste realidade
Pedi informação de como chegar a Cintsa para o pessoal da recepção. Havia um serviço de shuttle, van particular, que cobrava 180 rands. Quase 50 reais por uma viagem curta, de 40km. Os mochileiros geralmente chegam lá de BazBus, que deixa na porta do albergue. Não era o meu caso. Decidi ir de minibus taxi, como os locais. Depois de alguns telefonemas, descobrimos onde era o taxi rank. Consegui uma carona com o dono do albergue, o Andre. Ele também era dono do Coffee Shack, o tão recomendado backpackers em Coffee Bay. Disse que Cintsa era legal, mas Coffee Bay era mais rústica e com a verdadeira vibe da Wild Coast. Mal podia esperar para conferir.


"Leo Supertramp"
Desci do carro naquela confusão de pessoas, vendedores e vans para todos os lados. Achei as que iam para Cintsa logo de cara, no primeiro lugar em que perguntei. A passagem eram míseros 18 rands, um décimo da van particular. Fui feliz da vida ao lado dos meus companheiros de viagem, sem entender nada do que tagarelavam entre eles em xhosa – língua local. O asfalto deu lugar a uma estradinha de terra, assim como a paisagem deixou de ser urbana e passou a ser rural. Buccaneer’s Backpackers, please. O motorista me deixou o mais perto possível, saindo um pouco do seu caminho. Coloquei meu mochilão nas costas e desci a colina na direção apontada por ele. Estava me sentindo livre como um andarilho, integrado à natureza, “Leo Supertramp”. A estradinha fazia uma curva, que ia morro a baixo. Eis que surge, como uma miragem, a visão de uma praia quase selvagem. Era de esfregar os olhos para ter certeza de que era realidade.

Mapa East London (A) - Cintsa (B) - Wild Coast
Cintsa é o lugar mais acessível da Wild Coast, tendo uma boa estrutura e muitas casas de veraneio. Ao contrário do resto da região, também conhecida como Transkei, que é o berço do povo Xhosa – terra natal de Nelson Mandela. Uma das áreas mais pobres e isoladas do país. Seus humildes vilarejos de casas redondas pontilham os 350km de litoral que se estendem dali até Port Edward, indo para o interior até Umtata. Aventura e tradição é o que não falta entre seus vales, penhascos e praias selvagens. Ali era apenas a porta de entrada para uma semana de integração física e mental com toda essa atmosfera.

Vista do dormitório no Buccaneer's Backpackers
 
Muito bem recomendado pelos meus amigos viajantes e locais, o Buccaneer’s era um oásis. Uma confortável estrutura em meio a toda aquela natureza, dormitório com vista panorâmica. Cheguei sozinho, sem conhecer ninguém novamente. A adaptação não foi tão espontânea como em Jeffrey’s Bay, mas aos poucos fui conhecendo a galera. Todos se cruzavam a caminho da praia quase deserta lá embaixo, pegavam as canoas para remar rio acima, conversavam ao redor da piscina, disputavam uma partida de ping pong, jogavam vôlei de areia e provavam as cervejas do bar. A Castle Milk Stout gerou divertidas discussões sobre seu extravagante sabor leitoso.


Praia e Lagoa quase privativas

Além das acirradas partidas profissionais de sinuca, performances de tambor e conversas no bar; o jantar era o ponto alto da noite. A cada dia tinha um prato diferente, com opção vegetariana. Como estávamos isolados ali, todos se reuniam para compartilhar a refeição preparada pelo staff especialmente para nós. Essa era uma característica marcante das hospedagens na Wild Coast, sentir-se em casa. Havia quem ali chegasse para alguns dias e já estava por alguns meses, caso de um simpático casal de Durban (Vicky e Yanes) que arrumou emprego no próprio albergue. Finalmente encontrei outros viajantes que estavam indo na mesma direção que eu, para Coffee Bay. Como Slobodam, um sérvio muito louco que mora no Canadá, que estava há algumas semanas acampando pelo litoral sulafricano.

Fotos do Buccaneer's (by Google):



BazBus + Shuttle para Coffee Bay: "Into the Wild Coast..."
Dado o isolamento e escassez de transporte no local, me rendi ao BazBus. Paguei 215 rands até Umtata, principal cidade da região, onde há transporte para os isolados vilarejos ao redor. Esperando a van dos mochileiros, conversei com um casal francês (Lucie e Tony) que tinha chegado no dia anterior e estava indo no mesmo sentido que eu. A bordo do BazBus, vindo de Cape Town, conhecemos um médico novaiorquino (Sasha) que também iria para Coffee Bay. Para minha surpresa, a coroa alemã que conheci em Wilderness (Claudia) também estava lá. Já em Umtata, o alemão Sebastian se juntou a nós no shuttle do Coffee Shack. Estes seriam meus companheiros de viagem a seguir, mal nos conhecíamos ainda e tínhamos muita estrada pela frente... 


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