terça-feira, 10 de julho de 2012

Despedida radical

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Preparado?

Última semana de trabalho, chegou a hora das despedidas. Minha bandeira da África do Sul colecionava mensagens assinadas pelos meus companheiros de aventuras! A maior aventura de todas estava bem ali ao lado de onde eu estava morando. A apenas 20km do Monkeyland estava a  Bloukrans Bridge, imponente ponte arqueada que atravessa 450m sobre um surpreendente vale, bem na divisa das províncias de Western e Eastern Cape.  Lá se localiza o mais alto bungee jump comercial do mundo, Face Adrenalin, um salto de 216 metros em direção a um riacho pedregoso cujas corredeiras vão ferozmente em direção ao mar.

Mapa da região

Galera entrando no clima!
O meu último dia de trabalho não teve muito clima de despedida, afinal eu ainda ia ficar na fazenda uns dias antes de partir. A festa foi no dia seguinte, todos os voluntários foram liberados do trabalho para pular do tão temido bungy junto comigo! Lotamos dois carros e partimos pra lá. As únicas que não pularam foram a alemã, Farina, e a coroa italiana novata, Rosie. Ficaram lá assistindo de camarote no restaurante panorâmico do lugar a nossa emoção! Conseguimos um descontão por sermos voluntários do Monkeyland, os donos dos dois lugares se conheciam, além de estarmos em um grupo grande (7 pessoas).

O que nos espera lá embaixo



Fomos por uma trilha rápida até a plataforma de onde saltamos, que fica embaixo da ponte. Quem tem medo de altura começa a sofrer já no percurso até lá. A grade vazada em que pisamos proporciona um aperitivo do que nos espera lá embaixo. Mas a adrenalina é mais forte, ainda mais quando estamos em grupo. A música é alta e bem animada, vira uma festa em que os hits tocados são complementados pelos gritos de euforia e excitação a cada pulo.



Salto de 216m entre as nuvens

Chegou a minha vez, fui o segundo a pular. Estava chuviscando, havia uma neblina que encobria todo o vale. Fui amarrado pelos tornozelos, me apoiei no ombro dos instrutores e fui saltando feito saci-pererê até a beirada. Não tem mais jeito. A sensação de estar caindo em um precipício, como quando acordamos repentinamente de uma soneca em frente à TV, logo se transforma em uma alegria sem tamanho. O grito de medo ganha ares de excitação, como o de uma torcida vendo seu time ganhar um campeonato. A medida que eu ia atravessando as nuvens, a paisagem ia surgindo em meio a uma garoa que refrescava a alma. É muita adrenalina! Quando acaba, você fica alguns minutos de cabeça para baixo esperando o instrutor vir te resgatar de rapel. A primeira frase a ser dita pela maioria depois que volta é: “I wanna jump  again!!!” (Quero pular de novo!). Esse era o sétimo pulo da Emelia, a inglesa. Como ela já tinha muita experiência, eles a deixaram pular amarrada pelo tórax. Queria ter pulado dessa maneira, sair correndo até ficar sem chão e saltar no vazio... Foi sensacional!

Woohoo!
Já estou acostumado com o clima de despedidas. Mas lá tinham voluntários chegando e partindo a toda hora, isso renovava a atmosfera. Diferentemente dos meus intercâmbios de trabalho nos EUA, a excitação de chegar e a melancolia de partir foram períodos menos contrastantes. Na minha última semana chegaram duas voluntárias novas, a Yanna e a Joke (lê-se “iôca”). A Yanna é uma russa que mora em Nova York, viaja o mundo inteiro. Ela tinha acabado de voltar da Índia, Egito e estava indo escalar do Monte Kilimanjaro (o mais alto da África) na Tanzânia dali a poucas semanas. A Joke é belga, da parte flamenca, extremamente engraçada - assim como o seu nome (que em inglês, ao pé da letra, significa "piada"). Por ser a primeira semana delas e a minha última, tínhamos preferência na hora de pegar uma carona com a Kim para curtir as belezas da região. Fizemos um braai (churrasco) de boas vindas na fogueira. Fomos buscar mais lenha no mato no meio da madrugada, apostamos uma corrida até o Monkeyland na tentativa insana e frustrada de festejar com os macacos, desistimos e deitamos no meio da estrada sob o luar para escutar o barulho dos animais. Melhor despedida eu não poderia ter, sentindo o carater único daquela experiência.

Jantar de despedida no Market at Main, em Plett
Hora de arrumar a mala e levantar acampamento. Deixei tudo preparado para a partida no dia seguinte. Fomos curtir a noite em Plett... Jantar no Market at Main, sinuca e música no Flashback’s, animado banho de piscina noturno na casa da Gaelle (outra voluntária belga). Meu ônibus partiria somente de madrugada, teria que passar o dia inteiro em Plett. Voltei para pegar minhas coisas no Monkeyland, devolver meu uniforme e pegar minha carta de recomendação. Estava chovendo forte. Depois que despedi de todos, peguei minha capa de chuva e parti, olhando para trás de vez em quando. Aquela etapa já estava ficando pequenininha e distante. E o que vinha pela frente estava muito nublado ainda. No silêncio da madrugada, esperei meu ônibus 5 horas atrasado pacientemente no posto de gasolina. Deitei em uma mureta para ler um pouco e refletir sobre a jornada em que eu estava prestes a me lançar.


De volta à estrada...
Meu tão esperado mochilão iria começar, eu e minha mochila juntos nas estradas africanas. Montar um roteiro inicial não foi tão fácil. Voltar para Cape Town ou avançar para Jeffrey’s Bay? Essa era a dúvida. Como ainda não tinha companheiros de viagem com o mesmo itinerário que eu, resolvi encontrar os amigos que eu tinha feito pelo caminho. Isso me deu mais tranquilidade no início, além de poder conhecer de perto o estilo de vida local. Resolvi voltar para Cape Town para conhecer o que faltava e curtir com a brasileirada. Depois ainda queria visitar meus amigos sulafricanos nas suas cidades. As aulas já tinham voltado, fui convocado para as festas universitárias em Stellenbosch e Grahamstown. Fora isso, o mês que eu ainda tinha pela frente era um calendário em branco a ser preenchido pelo acaso.