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Preparado? |
Última semana de trabalho, chegou a hora das despedidas. Minha bandeira da África do Sul colecionava mensagens assinadas pelos meus companheiros de aventuras! A maior aventura de todas estava bem ali ao lado de onde eu estava morando. A apenas 20km do Monkeyland estava a Bloukrans Bridge, imponente ponte arqueada que atravessa 450m sobre um surpreendente vale, bem na divisa das províncias de Western e Eastern Cape. Lá se localiza o mais alto bungee jump comercial do mundo, Face Adrenalin, um salto de 216 metros em direção a um riacho pedregoso cujas corredeiras vão ferozmente em direção ao mar.
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Mapa da região |
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Galera entrando no clima! |
O meu último dia de trabalho não
teve muito clima de despedida, afinal eu ainda ia ficar na fazenda uns dias
antes de partir. A festa foi no dia seguinte, todos os voluntários foram
liberados do trabalho para pular do tão temido bungy junto comigo! Lotamos dois carros e partimos pra lá. As
únicas que não pularam foram a alemã, Farina, e a coroa italiana novata, Rosie.
Ficaram lá assistindo de camarote no restaurante panorâmico do lugar a nossa
emoção! Conseguimos um descontão por sermos voluntários do Monkeyland, os donos
dos dois lugares se conheciam, além de estarmos em um grupo grande (7 pessoas).
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O que nos espera lá embaixo |
Fomos por uma trilha rápida até a
plataforma de onde saltamos, que fica embaixo da ponte. Quem tem medo de altura
começa a sofrer já no percurso até lá. A grade vazada em que pisamos
proporciona um aperitivo do que nos espera lá embaixo. Mas a adrenalina é mais
forte, ainda mais quando estamos em grupo. A música é alta e bem animada, vira
uma festa em que os hits tocados são
complementados pelos gritos de euforia e excitação a cada pulo.
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Salto de 216m entre as nuvens |
Chegou a minha vez, fui o segundo
a pular. Estava chuviscando, havia uma neblina que encobria todo o vale. Fui
amarrado pelos tornozelos, me apoiei no ombro dos instrutores e fui saltando
feito saci-pererê até a beirada. Não
tem mais jeito. A sensação de estar caindo em um precipício, como quando
acordamos repentinamente de uma soneca em frente à TV, logo se transforma em
uma alegria sem tamanho. O grito de medo ganha ares de excitação, como o de uma
torcida vendo seu time ganhar um campeonato. A medida que eu ia atravessando as
nuvens, a paisagem ia surgindo em meio a uma garoa que refrescava a alma. É muita adrenalina! Quando acaba, você fica alguns
minutos de cabeça para baixo esperando o instrutor vir te resgatar de rapel. A
primeira frase a ser dita pela maioria depois que volta é: “I wanna jump again!!!” (Quero pular de novo!). Esse era o sétimo pulo da Emelia, a inglesa. Como ela já tinha muita experiência, eles a deixaram pular amarrada pelo tórax. Queria ter pulado dessa maneira, sair correndo até ficar sem chão e saltar no vazio... Foi sensacional!
Woohoo! |
Já estou acostumado com o clima
de despedidas. Mas lá tinham voluntários chegando e partindo a toda hora, isso
renovava a atmosfera. Diferentemente dos meus intercâmbios de trabalho nos EUA,
a excitação de chegar e a melancolia de partir foram períodos menos
contrastantes. Na minha última semana chegaram duas voluntárias novas, a Yanna
e a Joke (lê-se “iôca”). A Yanna é uma russa que mora em Nova York, viaja o
mundo inteiro. Ela tinha acabado de voltar da Índia, Egito e estava indo
escalar do Monte Kilimanjaro (o mais alto da África) na Tanzânia dali a poucas
semanas. A Joke é belga, da parte flamenca, extremamente engraçada - assim como o seu nome (que em inglês, ao pé da letra, significa "piada"). Por ser a
primeira semana delas e a minha última, tínhamos preferência na hora de pegar
uma carona com a Kim para curtir as belezas da região. Fizemos um braai (churrasco) de boas vindas na
fogueira. Fomos buscar mais lenha no mato no meio da madrugada,
apostamos uma corrida até o Monkeyland na tentativa insana e frustrada de
festejar com os macacos, desistimos e deitamos no meio da estrada sob o luar
para escutar o barulho dos animais. Melhor despedida eu não poderia ter,
sentindo o carater único daquela experiência.
Jantar de despedida no Market at Main, em Plett |
Hora de arrumar a mala e levantar
acampamento. Deixei tudo preparado para a partida no dia seguinte. Fomos curtir
a noite em Plett... Jantar no Market at
Main, sinuca e música no Flashback’s,
animado banho de piscina noturno na casa da Gaelle (outra voluntária belga). Meu
ônibus partiria somente de madrugada, teria que passar o dia inteiro em Plett.
Voltei para pegar minhas coisas no Monkeyland, devolver meu uniforme e pegar
minha carta de recomendação. Estava chovendo forte. Depois que despedi de
todos, peguei minha capa de chuva e parti, olhando para trás de vez em quando.
Aquela etapa já estava ficando pequenininha e distante. E o que vinha pela
frente estava muito nublado ainda. No silêncio da madrugada, esperei meu ônibus
5 horas atrasado pacientemente no posto de gasolina. Deitei em uma mureta para
ler um pouco e refletir sobre a jornada em que eu estava prestes a me lançar.
De volta à estrada... |
Meu tão esperado mochilão iria
começar, eu e minha mochila juntos nas estradas africanas. Montar um roteiro
inicial não foi tão fácil. Voltar para Cape Town ou avançar para Jeffrey’s Bay?
Essa era a dúvida. Como ainda não tinha companheiros de viagem com o mesmo itinerário
que eu, resolvi encontrar os amigos que eu tinha feito pelo caminho. Isso me
deu mais tranquilidade no início, além de poder conhecer de perto o estilo de
vida local. Resolvi voltar para Cape Town para conhecer o que faltava e curtir
com a brasileirada. Depois ainda queria visitar meus amigos sulafricanos nas
suas cidades. As aulas já tinham voltado, fui convocado para as festas
universitárias em Stellenbosch e Grahamstown. Fora isso, o mês que eu ainda
tinha pela frente era um calendário em branco a ser preenchido pelo acaso.